A cada clique, toque na tela ou nova senha criada, as pessoas idosas que participaram do projeto Reaprendendo o Mundo: Educação Digital para Pessoas Idosas deram passos importantes rumo à autonomia digital. Mas esse caminho, embora transformador, foi também repleto de desafios, muitos deles invisíveis para quem já nasceu conectado.
Desenvolvido pelo Instituto IADVH, por meio do Movimento Amigos da Pessoa Idosa e com apoio do Instituto Equatorial, o projeto nasceu justamente da constatação de que, embora o mundo avance rapidamente em tecnologia, milhões de pessoas idosas ainda enfrentam dificuldades básicas para acessar seus próprios direitos, como aposentadoria, serviços de saúde e benefícios sociais, por falta de letramento digital.
Durante as oficinas, muitos participantes relataram o medo de errar, o receio de apertar o botão errado ou mesmo de “quebrar o celular”. Para alguns, aquela era a primeira vez em contato com um smartphone. Outros, mesmo já possuindo aparelhos, nunca haviam conseguido usá-los com segurança por conta da linguagem tecnológica complexa, cheia de termos como “login”, “senha”, “aplicativo” e “nuvem”, que soavam quase como um outro idioma. Além disso, a desconfiança era constante, especialmente por conta das experiências negativas vividas ou ouvidas sobre golpes digitais, o que gerava insegurança na hora de navegar por aplicativos e sites.
Para vencer essas barreiras, o projeto apostou em metodologias sensíveis, acolhimento psicológico, ensino passo a passo e formação de monitores voluntários, muitos deles jovens, o que promoveu uma troca geracional rica, afetiva e cheia de aprendizados mútuos. Essa relação entre gerações trouxe não apenas o conhecimento técnico, mas também o resgate da autoconfiança e da dignidade de aprender sem julgamentos.
“Ensinar uma pessoa idosa a usar um aplicativo vai muito além da tecnologia. É devolver a ela o controle sobre sua própria vida”, destaca Valéria Cutrim, especialista de responsabilidade social do IADVH.
A caminhada segue, e ainda há muitos obstáculos a superar. No entanto, o que se vê agora é um grupo fortalecido, mais seguro, conectado com o presente e consciente de que aprender é possível em qualquer idade. O digital, que antes era um mundo distante, hoje é mais uma porta de acesso à cidadania, à informação e à liberdade.